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Destaques

Fazenda Botafogo de Costa Barros, um crime contra um patrimônio histórico!

Fazenda Botafogo, anos 80. Pintura de Maria Sá Freire. Programa Minha Casa Minha Vida, destrói a memória do subúrbio colonial carioca! Enquanto eu estive no grupo de estudos do Instituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá - IHGBI. Fiz um levantamento sobre a região, procurando fontes em arquivos, referências bibliográficas, usei o geoprocessamento, e busquei também a memória da população local. Quanto ao recorte geográfico, a Baixada de Irajá , abrange a boa parte da antiga freguesia do mesmo nome. E hoje, está fragmentada em 38 bairros e compreende também partes de Realengo, como o sub-bairro de Piraquara. A sede da Fazenda Botafogo, era o último patrimônio de altíssimo valor histórico na baixada de Irajá, da categoria das fazendas e engenhos. E pasmem! Sobreviveu até o início da década passada, mesmo com tanta descaracterização na fachada colonial. A sua demolição, ocorreu entre o final do ano de 2011 e começo de 2012, os tratores limparam o terreno removendo os barracos das ...

Origens do bairro da Tijuca


Tijuca, por volta de 1880.

Origens do bairro da Tijuca!

Por Cleydson Garcia

Foto: Tijuca, c. 1885 / Marc Ferrez

A origem do bairro começa no tempo da fundação da cidade, com a doação de uma sesmaria conhecida como "Terras de Iguassu" dada pelo Estácio de Sá para os 'Padres da Companhia de Jesus', em 1565.

"As terras de Eyoassu ou Iguassu, começava na foz do Rio Comprido, seguindo sertão adentro em direção a Tapera de Inhaúma, defronte a Bonsucesso. Em dentro deste enorme latifúndio, incluía São Cristóvão, Tijuca, Engenho Novo e até mesmo partes de Manguinhos e Bonsucesso. A sesmaria, tinha aproximadamente 6000 braças de extensão."

Para ocupar essas terras, foi necessário lutar com os tupinambás que ainda moravam na região. E a principal aldeia tupinambá da região, era conhecida como Îabebyrasyka/Jabebiracica - "Arraia Cotó", provavelmente ficava próximo à Praia de São Cristóvão. As batalhas foram lideradas pelo cacique Araribóia chefe da tribo temiminó, e o mesmo teve êxito ao conquistar essa aldeia. Vale lembrar que Araribóia, tinha recebido o nome cristão de Martim Afonso de Souza. E a taba de Jabebiracica, recebeu o nome "Aldeia do Martinho", assim que foi conquistada. Porém em 1573, Araribóia se muda para as terras de São Lourenço/Niterói, a sesmaria que recebera em 1568, desocupando as terras dos jesuítas.

Em 1574, os tamoios junto com os franceses, tentam reconquistar Jabebiracica, mas não tiveram sucesso, devido a guerra de Cabo Frio. Após 1575, os tamoios nunca mais retornaram na região, pois foram trucidados nesta grande batalha, a mando do feroz governador Antonio Salema.

PRIMEIRO ENGENHO

Os padres jesuítas, eram bons administradores dos seus patrimônios, e ficaram ricos com o tempo. No início, tiveram dificuldades para gerar rendas nestas terras, pois tinham votos de pobreza, mas o colégio precisava de dinheiro, e também não queriam perder as terras para a coroa portuguesa. Tiveram que arrendar suas terras, para terceiros plantarem sua a cana, criarem engenhocas e fazer roçados gastando do próprio bolso. Após a produção, era dividido os lucros entre os padres e os arrendatários. A situação financeira iria melhorar após 1590, após a permissão dos seus superiores, como o padre geral italiano Claudio Acquaviva.

Escritura de 1577:

"Padres concordam e fazem um contrato em que Gaspar Sardinha teria que montar o trapiche em 2 anos e pagaria 2,5% de todo o açúcar produzido e o dízimo das mais novidades da terra; não fazendo o engenho pagará mais.. e Gaspar não impedirá os outros arrendatários, se eles lá quiserem ficar.. Gaspar já havia feito alguns melhoramentos na terra e é o primeiro que faz trapiche nas terras dos jesuítas, por isso eles fazem um arrendamento abaixo do custo. Aforamento por 18 anos"

Obs: Engenho trapiche, é um engenho movido à tração animal. Faz a moagem da cana, através do giro da máquina por bois.

CAPELA DOS INACIANOS

Em 1583, os padres erguem em suas terras, a sua primeira capela, sob a invocação de São Francisco Xavier. Prestando homenagem ao missionário e mártir jesuíta: Francisco de Jasso Azpilicueta Atondo y Aznáres, falecido em 1552, canonizado em 1622.

A igreja foi sendo reformada pouco a pouco, até ter a atual aparência. E a reforma mais recente, foi incentivada pelo Duque de Caxias, que era frequentador assíduo desta paróquia.

DO ENGENHO VELHO AO NOVO

No século início do XVII, os padres ainda não tinham construído seu próprio engenho, mas houve o aumento dos roçados e criação de gado. A mão de obra que abastecia os engenhos dos arrendatários e as casas, era formada basicamente por índios capturados nos sertões da capitania do Rio de Janeiro.

Aos poucos, os padres jesuítas foram introduzindo escravos africanos em suas propriedades. Data de 1602, o primeiro relato acerca do convívio entre índios e negros em terras inacianas no Rio de Janeiro. O padre Pero Rodrigues informou que o colégio já possuía "pretos de Guiné" e que estes viviam com os índios nas terras jesuíticas de Iguaçu e ali trabalhavam em roças e serviam nas "obras e em outras cousas".

- Conquista do engenho:

O engenho de Nossa Senhora de Guadalupe foi vendido a Duarte de Albuquerque e, entre os anos de 1610 a 1624, esteve nas mãos de Baltazar Borges. Suspeita-se de que é esse engenho, que voltará mais tarde, para o domínio dos jesuítas e se constituirá no "Engenho Velho".  O engenho, que viria ser chamado de "velho" no século seguinte, produziu bastante caixas de açúcar branco e mascavado.

Para chegar na fazenda, a partir do Morro do Castelo: Os padres iam no lombo de cavalo, pelo caminho de Capuereçu ou pela rota de Mata Cavallos. Geralmente iam pelo caminho de Mata Cavallos, atual Rua Riachuelo. Passavam por Catumbi, até chegar nas bandas da colina do Barro Vermelho, próximo ao bairro de Estácio. Contornavam um grande manguezal que havia na região "Mangal de São Diogo". A partir de Mata Porcos/Estácio, entravam pelo caminho de "Andarahy Pequeno", hoje é a Rua Haddock Lobo e Conde de Bonfim.

O engenho dos padres jesuítas, futuro "Eng° Velho", prosperou por volta de 1640, quando o preço do açúcar estava em alta. Porém, em 1680, o açúcar brasileiro foi desvalorizado, devido a concorrência com o açúcar das Antilhas do Caribe.

Em 1647, Tijuca passa a fazer parte da grande Freguesia de Irajá. Mas, devido a proximidade com a cidade, os padres preferiam chamar a região de Andarahy ou bandas de Maracanãpoan. A emancipação, ocorreu no final do século seguinte.

Em 1707, os padres construíram o "Engenho Novo", localizado a poucas léguas do velho. O motivo da ereção desse novo engenho, foi porque a produção de cana de açúcar estava em alta no mercado e as terras que pertenciam ao "Engenho Velho" já estavam desgastadas ou aforadas a terceiros. Os jesuítas prosperaram muito no século XVIII, reunindo uma enorme fortuna. Tinham 13 propriedades espalhadas pela Capitania do Rio de Janeiro, uma delas é a gigantesca Fazenda de Santa Cruz.

Em 1752, os jesuítas constroem perto do "Engenho Velho", uma casa grande na Fazenda São Cristóvão, com fins recreativos. A casa, refletia suas paredes brancas no "Saco de São Diogo", uma pequena enseada da Baía de Guanabara. Defronte às ilhas Damasceno e das Moças, atualmente extintas.

A fazenda chegou a ter mais de 200 escravos!

A EXPULSÃO

No ano de 1759, Marquês de Pombal, sob às ordens Rei D. José I, expulsa os jesuítas do Brasil: "Declaro os sobreditos regulares 'os Jesuítas' rebeldes, traidores, adversários e agressores que estão contra a minha real pessoa e Estados, contra a paz pública dos meus reinos e domínios, e contra o bem comum dos meus fiéis vassalos (...) mandando que efetivamente sejam expulsos de todos os meus reinos e domínios."

O motivo, está ligado ao enriquecimento ilícito dos padres e a guerra guaranítica, que ocorreu nas suas reduções indígenas no sul do Brasil. Os jesuítas estavam juntos com índios guaranis, e lutaram contra os portugueses e os espanhóis ao mesmo tempo, para defender os seus negócios lucrativos e o trabalho de catequização dos gentios da terra. Após o confisco das terras dos jesuítas, as propriedades que eram arrendadas dos padres, foram vendidas. E suas terras, que eram oriundas da "Sesmaria de Iguassu", foram retalhadas para criar novas fazendas e chácaras.

Uma dessas chácaras, se chamava "Quinta do Elias", onde foi construído o palácio da "Imperial Quinta da Boa Vista". E nela, nasceu Dom Pedro II.

TIJUCA COMO BAIRRO

O início da formação do lugar como um bairro, começa quando Engenho Velho foi elevado à freguesia em 1795. Os moradores, passaram a ser batizados na paróquia São Francisco Xavier, já como freguesia. No começo do século XIX, o bairro ainda tinha um aspecto rural, e possuía muitas chácaras. O triplo em relação ao tempo da expulsão dos Jesuítas. Além de sítios, também teve duas fábricas, a de Fábrica de Papel e de tecidos Chitas.

Os chacareiros mais famosos, faziam parte da nobreza imperial do Brasil, estas pessoas seriam: Conde de Bonfim, Barão de Mesquita, Duque de Caxias e dentre outros. Então não é difícil imaginar, que o bairro teve belos casarões com arquitetura colonial, e até mesmo neoclássico.

As primeiras fábricas têxteis da região, feita nos moldes da indústria britânica e com maquinários modernos, eram de Frederico Guilherme e Hartley. O Frederico teve a sua fábica construída em 1846 e pronta em 1848, e a fábrica de Joaquim Diogo Hartley, foi construída em 1847 e inaugurada em 1850. Ambos construíram no Andaraí Pequeno, atual bairro da Tijuca. Sendo a fábrica de Hartley possuía 60 teares, 50 para pano lisos e 10 para entrelaçados, nos quais somente 25 funcionavam, e tinha apenas 56 trabalhadores livres. 

Em 1850, a Chácara da Mata, foi comprada para criar o externato do Colégio Pedro II. Fazendo que muitos alunos, de classes abastadas se matriculassem neste colégio. Com o tempo, o bairro ganhou uma aparência mais urbana e ganhou novos moradores. Em 1866, a Freguesia do Engenho Velho, ganha uma pequena estrada de ferro, com bondes movido à cavalos. Partia do Campo de Santana, e rumava em direção a Serra da Tijuca.

No final do século XIX, o bairro já possuia milhares de moradores, por ser um local aprazível perto da cidade.

Como o "Engenho Velho" se tornou Tijuca?

O nome tupi "Tijuca", veio da Lagoa da Tijuca, nas bandas de Jacarepaguá. Significa "terreno argiloso" ou "pântano" segundo Brasil Gerson. E outras fontes defende "água não potável",  talvez se trate das águas salobras da lagoa.

Ao passar dos séculos, o termo "Tijuca" que deu nome as lagoas e a serra, foi descendo em direção à freguesia do Engenho Velho. No século XX, o nome acabou "engolindo" os bairros do Engenho Velho, Andarahy Pequeno e Fábrica das Chitas.

Texto e Pesquisa: Cleydson Garcia.
Historiógrafo e Pesquisador.
Graduando em Arquitetura.

Imagem colorizada digitalmente por Cleydson Garcia.

Créditos:#EspecialRioAntigo

Fonte:

1 - O Rio antes do Rio - Rafael Freitas.

2 - As origens da terra jesuítica na capitania do Rio de Janeiro e a implantação do engenho Velho no século XVII. M. Amantino.

3 - Carta d’arrendamento que fêz o Colégio a Gaspar Sardinha pera fazer hum trapiche nas terras do dito Colégio. ABN, 82, 1962, pp. 127-129. 

4 - Almanak Laemmert, p. 33, Comércio - 1850. 

O plágio está sujeito à denuncias. Sejam originais!
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Comentários

  1. Tijuca, um bairro cheio de história que nos remonta às origens do Rio. Parabéns, Cleydson Garcia pelo blog! Siga em frente!

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  2. Adorei! Amo o bairro onde nasci e vivo. Parabéns pela pesquisa e texto. Compartilho com muito

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    1. Muito obrigado Denise, isso é um incentivo para eu continuar divulgando a história :)

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  3. Respostas
    1. Valeuu Ivo! É uma honra ter você por aqui! Teu blog também me inspira muito!

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  4. Ótimo trabalho de pesquisa. Nasci na Tijuca e conhecia pouco a história do bairro. Aliás, todas as postagens do blog estão muito bem feitas, parabéns

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  5. Parabéns pelo blog e pelo trabalho muito bem feito sobre as origens e a história dos bairros de nossa cidade. Gostei muito, assim como minha família. Nasci em Copacabana , tendo posteriormente vivido toda a minha infância e adolescência no Jardim Botânico.

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    1. Muito obrigado Luiz!! Seja bem vindo, não suma da página! Em breve terás novidades sobre Copacabana. rsrs

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