A restinga se formou há milhares de anos, através da diminuição do nível do mar. E revelou um enorme banco de areia, paralelo à linha da costa. Com o tempo, foi surgindo as vegetações rasteiras, lagoinhas, dunas, brejos e arbustos.
E aos poucos, tornou-se este rico ecossistema!
A origem do nome Jacarepaguá, tem relação com o predador mais famoso da região: O jacaré de papo-amarelo! Sendo que este réptil deu nome à restinga e a futura Freguesia de Jacarepaguá. O "Îacarepaguá", no idioma tupi significa “Lagoa rasa dos jacarés”. E a expectativa de vida desse réptil, é de 50 anos!
As Lagoas de Jacarepaguá, eram conhecidas como "Tijuca", que é um nome dado pelos tupinambás. O seu significado é "terreno argiloso", "pântano", segundo Brasil Gerson. E outras fontes dizem "água não potável", que pode se referir aos grandes alagadiços nas margens da lagoa. Pois se trata das águas salobras - mistura de água doce e salgada. E seu gosto não é agradável para beber, assim como a água do mar. No entanto, essas lagoas eram um verdadeiro berçário de peixes, crustáceos e aves. E também, fornecia muito alimento aos animais da restinga, e aos índios Tamoios. A denominação "Barra", é referente ao deságue da Lagoa da Tijuca no Oceano Atlântico. E a Lagoa de Marapendi, era bem maior que o tamanho atual, o seu nome em tupi era Mbará-pendi, que significa "mar limpo", afirma Adolfo Morales de los Rios Filho. Na época, e até mesmo há poucas décadas, a lagoa era abundante de cardumes de tainhas, savelhas, carapicu, peixe-rei e parati! Viviam alegres e saltitantes, deixando seu espelho d'água prateado a cada pôr de sol, e servindo de alimento à aves marinhas, garças e socós.
A aldeia tupinambá mais próxima, era a de Guiraguaçumirim, e ficava nas proximidades da Barrinha. Esta aldeia e a outra vizinha de Takûarusutyba (Taquara), aproveitavam as plumagens dos guarás-rubra, para fazer um belo manto vermelho, todo coberto de pena, que era usado pelo pajé durante o ritual de antropofagia.
Após a derrota dos Tamoios e a conquista do Rio de Janeiro pelos portugueses, o alcaide-mór Salvador Correia de Sá - primo de Estácio, ganha essa imensa extensão de terra, que equivalia toda a baixada de Jacarepaguá! E os índios, foram escravizados e serviram as primeiras lavouras da região. Alguns anos depois, o velho Salvador, dividiu as terras entre seus dois filhos: Martin Correia de Sá e Gonçalo Correia de Sá, em meados de 1600. Logo depois, Martim de Sá, adquire a antiga Sesmaria de Julião Rangel, para aumentar seus domínios ao pé da montanha, Barrinha e Itanhangá, partindo para o sertão adentro. Sendo assim, a restinga ficou dividida entre 2 proprietários: Os irmãos Sá.
Por volta de 1661, foi criada a paróquia e a "Freguesia de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá", desmembrando-se da grande Freguesia de Irajá. Durante muito tempo a Barra da Tijuca, fez parte da freguesia de Jacarepaguá. Somente na década de 1980, que se tornou um bairro oficial.
Anos mais tarde, Gonçalo falece e a sua filha Vitória de Sá, herda a Fazenda Camorim. E a mesma prepara um testamento deixando a fazenda para os Beneditinos, por não ter herdeiros. No entanto, não houve formal de partilha, e nem carta de aviventação para deixar claro a dimensão real das terras que herdou do seu pai, para câmara da cidade. Com a morte de D. Vitória em 1667, os Beneditinos assumem a outra metade da restinga e passam a criar gado nos Campos de Sernambetiba, mesmo sem documentações oficiais. E os Frades Beneditinos, criaram mais duas fazendas em dentro deste enorme latifúndio: Vargem Grande e Vargem Pequena.
Os padres fizeram uma enorme fortuna, possibilitando fazer a ampliação do Convento de São Bento, na Cidade. E toda produção de gado e açúcar dos beneditinos, eram escoados no "Porto Velho de Irajá", porque o 'Mar da Barra' era agitado, e tinha uma navegabilidade ruim. Somente no verão, era possível fazer uma travessia segura das lagoas de Jacarepaguá para o Porto do Rio. Onde se achava as naus que iam para outras Capitanias do Brasil, Portugal e suas colônias ultramarinas.
No outro lado, os herdeiros de Martin, fundaram o Engenho Real D'Água e as demais fábricas de açúcar. A família vendeu as terras mais ao norte a terceiros, uma delas seria a Fazenda da Taquara. Ainda no século XVII, a família instituiu um morgadio, e isso quer dizer que: Somente um homem poderia herdar a fazenda, perpetuando a presença da família naquela região. Os Assecas, se tornaram a "nobreza da terra carioca", e foram as pessoas mais influentes da cidade. Investiram na produção de açúcar, aguardente, anil e mais tarde: o café.
O documento:
"Informação sobre a instituição do Morgado do Excelentíssimo Visconde de Asseca, feita em o ano de 1667 aos ... dias do mês de maio - Documento diz fazer parte do morgado "o engenho real de água chamado São Salvador da Tijuca, com todas as suas terras, confrontações, partidos de canas, escravos e gados, que tem de terras duas léguas de testada, e do mar para a serra outras duas léguas, com as restingas e campos que lhe tocar, que partem no cume da serra, vindo da cidade para a lagoa pela banda de leste, e da de oeste com terras do engenho de Nossa Senhora do Desterro, que temos nomeado a um de nossos filhos, irmão de João Correia de Sá, e pela parte do norte, no cume da serra, aonde chamam a Cruz (?), parte com terras dos padres da Companhia, e da parte do sul com o mar largo, incluindo-se as lagoas e restingas ... rendimento em 800$000".
Em 1694, os herdeiros de Martim de Sá, vende uma parte da sesmaria à família Serpa Pinto, que fundou ali a Fazenda da Restinga, bem nas proximidades do atual Jardim Oceânico e Tijucamar. Até os anos 70, constava nas documentações da prefeitura, as origens dos terrenos onde foram construídos diversos condomínios, inclusive o "Barramares", tinham a denominação "Fazenda da Restinga".
Conclusão: Tanto os Beneditinos e quanto os herdeiros do "Morgadio dos Assecas", eram donos da restinga até o século XIX. Embora já tivessem vendido uma parte à terceiros.
No século XX, as terras foram desmembradas e loteadas, dando origem aos bairros da Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. Sendo que muitos terrenos foram usufruto, e sofreram com os problemas de grilagem.
Texto e Pesquisa: Cleydson Garcia.
Historiógrafo e Graduando em Arquitetura.
Fonte: Aventura na História de Jacarepaguá, de Waldemar Costa/ Acervo T. Rudge/ AMSBRJ.
Imagem: Achilles Pagalidis, montagem digital.
Obs.: O Porto Velho de Irajá, era também conhecido como Porto de Meriti. E ficava no final da Estrada do Porto Velho, em Cordovil.
Créditos: Especial Rio Antigo
O plágio está sujeito à denuncias. Sejam originais!
Putz ...excelente o texto
ResponderExcluirMuito obrigado pelo elogio amigo! 😊
ExcluirMuito boa pesquisa, Parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigo!
ExcluirAos poucos essa regiao foi sendo a menina dos olhos das grandes construtoras e tambem por grupos de melicianos , invadindo áreas , belíssimas , sem nenhuma fiscalizaçao do poder público. Não é possível que se erga um prédio e ninguém vê.
ResponderExcluirLamentável a especulação imobiliária, destruíram o paraíso :v
ExcluirBonito reconhecimento da nossa história, Parabéns.
ResponderExcluirValeuu amigo! Assim continuarei inspirado continuar escrevendo no blog.
ExcluirParabéns ,é bom conhecer a história !!!
ResponderExcluirMuito obrigado Rosbelio 😊
ExcluirCaramba, aprendi muita coisa que não sabia num simples texto!
ResponderExcluirMuito obrigado Sr. Carlos!! Isso é um grande elogio.. continue visitando as minhas postagens, fique à vontade rs
ExcluirÓtima matéria, o único erro e a Vitória se Sa q nunca existiu, foi só manobra pra Grilagem, o Agravo 130 explica a história falsa q ouvimos. https://bancodecreditomovel.com/tag/agravo-130/
ResponderExcluirOlá Marisa, a D. Vitória de Sá existiu sim, ela está sepultada no mosteiro de São Bento, é só entrar lá que vai achar o túmulo dela.
ExcluirEntão a grilagem é uma coisa bem antiga na região rsrs
ExcluirBela publicação!Que tal a origem e finalidades do banco de crédito móvel?
ExcluirPosso pesquisar sobre o banco sim amigo, em breve terá mais postagens que contará detalhes de diversas regiões do Rio ;)
ExcluirMuito bom !
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