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História de Manguinhos
A história de Manguinhos começa, antes mesmo do tempo da fundação da fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nessas paragens habitavam os índios tupinambás, e as aldeias mais próximas de Manguinhos era de "Eirámirĩ" e "Pirakãiopã". Nestes tempos, as tribos tamoias, pescavam na enseada de Inhaúma e no Rio Obiriandiba (Faria), e esta costa era farta de peixes piracanjubas, acarás e outras espécies da água doce. Os tupinambás, viviam tranquilamente fazendo festas regadas a cauim, rituais, execuções de rivais temiminós e antropofagia. A região era bela, descortinava o panorama para a Serra dos Órgãos, manguezais, a baía e suas ilhas, os morros cobertos de matas virgens, que tinha um verde luxuriante.
As matas estavam repletas de árvores como ingazeiros, araçás, palmeiras jerivás, urucum, licurana, pau-jacaré e diversas árvores do bioma de mata atlântica.
Durante o século XVI, com a chegada dos portugueses e os franceses, iniciou-se negociações e escambos por causa da abundancia de Pau-Brasil no entorno da Baía de Guanabara, que os Tamoios era conhecida como "Seio do Mar". Mas os franceses tiraram vantagens, negociando melhor com os tamoios. Com tempo, os "truchements" (infiltrados) franceses já viviam entre os tupinambás e inclusive fizeram filhos mestiços com as índias. Um desses infiltrados se chamava Gosset, e este vivia na aldeia de Eirámirĩ.
Em 1557, Jean de Lery "o calvinista francês" visita a aldeia de Eirámirĩ, que significava "Aldeia da Abelha Pequena". Encontrou Gosset e conversou com o seu conterrâneo, aprendeu bastante sobre os nativos desta terra. O truchement revela que convive com a tribo há 10 anos.. Ao pernoitar nessa aldeia, Jean passa mal, com medo de ser comido pelos Tupinambás, por ter visto a barbárie num ritual de antropofagia, na outra aldeia. Gosset acalma o calvinista, e diz que eles são amigos e também galhofeiros.
Além de Eirámirim, alguns quilômetros ao noroeste, também tinha uma aldeia associada as abelhas com o nome de Eiraiá (Irajá).
Com a fundação da cidade do Rio de Janeiro, pelos portugueses, começa a distribuição das sesmarias, para garantir a ocupação dessas terras. E a batalha sangrenta para expulsar os franceses e eliminar os índios tamoios, estaria perto do fim. Porém, levou uma década para terminar os conflitos. E a aldeia de Eirámirim, não resistiu à invasão lusitana e temiminó, foi transformada imediatamente em tapera.
O primeiro sesmeiro que recebeu essas terras compreendidas entre a enseada de Inhaúma e a Penha. Foi o fidalgo português Antônio da Costa. Este, recebeu as terras no ano da graça de 1565. Nesta época, suas terras eram chamadas de "Piraquanopã" ou "Tapera de Inhaúma" nas cartas de sesmaria. E era justamente esta aldeia citada no início deste texto. Pouco tempo depois, Antonio funda o primitivo Engenho da Pedra. Além de Antônio, a região teve mais de 5 concessões de pequenas sesmarias na área de Bonsucesso, Ramos e Maré. Sendo que Manguinhos, era fronteira entre as terras dos jesuítas e dos homens que não pertenciam à ordem inaciana. Anos mais tarde outras sesmarias foram sendo compradas e anexadas pelo Eng° da Pedra.
Com a aparição dos primeiros fazendeiros na região, eles aproveitaram as trilhas abertas pelos índios e as clareiras para construir olarias, carvoarias, e engenhos movidos a trapiches. A trilha que levava à praia de Inhaúma, rapidamente foi transformada em aceso ao Porto de Inhaúma. O porto, serviu para transportar toda a produção agrícola do Campo de Irajá e Inhaúma para a cidade.
Em 1647, a região de Inhaúma se integra aos domínios da recém fundada Freguesia de Irajá. E a capela de São Tiago de Inhaúma, construída anos depois, também era administrada pela a Paróquia de Irajá. Somente em 1743, que Inhaúma se emancipa de Irajá.
No século XIX, com o desmembramento da Fazenda do Engenho da Pedra, surge uma fazenda que daria origem a Fazenda Manguinhos. Vale lembrar que Manguinhos, tem este nome pela abundancia de manguezais no seu entorno, o mangue vermelho - rhizophora mangle. No final do século XIX, a fazenda estava nas mãos de João Dias Amorim, dono de uma grande carvoaria. Nos fins do mesmo século, João registra seus domínios na Freguesia de Inhaúma. Logo depois, com a construção da Estrada de Ferro do Norte "Leopoldina Railway", João inaugura uma parada do seu nome "Parada Amorim", pois a estrada de ferro, cortou parte de sua fazenda. Anos depois essa parada recebe o nome de Carlos Chagas, e hoje, se chama Estação Manguinhos.
Em 1900, o presidente Campos Sales, o Barão Pedro Afonso, adquire a fazenda para montar o Instituto Soroterápico Federal, com a função inicial de fabricar vacinas contra a peste bubônica. No ano de 1903, teve início a edificação do ambicioso conjunto arquitetônico, que substituiu as modestas instalações do Instituto Soroterápico. O projeto foi entregue ao engenheiro português Luiz de Morais Júnior. A partir de 1905, iniciaram-se as escavações para construir o edifício principal, um pavilhão mourisco, concluído somente em 1918.
Foto: J. J. Pinto / Anos 10. Acervo: Fiocruz/ Foto registrada na janela do pavilhão mourisco.
Descrição da foto:
No primeiro plano vemos plantações, manguezais na antiga "Ponta das Mariquitas" e as palmeiras juçaras ou jerivás, que são palmitos típicos da nossa floresta tropical. Onde estava o belíssimo mangue, atualmente passa a cinzenta e barulhenta Av. Brasil.
O segundo plano, mostra o Campo de Bonsucesso, Morro do Thimbau e a lendária Praia de Inhaúma, com a sua colônia de pescadores, junto ao antigo porto colonial de Inhaúma, existente desde o século XVII. E avistamos também, as ilhas do Pinheiro, Bom Jesus, Catalão, Cabras e Baiacu, onde hoje é a atual Cidade Universitária.
No último plano, temos a planície que vai em direção ao crescente bairro de Ramos e o restante do subúrbio da Leopoldina. E também, aparece os fundos da baía e a Serra dos Órgãos.
Para finalizar essa descrição, notamos a tamanha degradação ambiental que a região sofreu, por ter feito enormes aterros, que fez desaparecer com a antiga enseada de Inhaúma. Além disso, Manguinhos vêm sofrendo com poluições desde os finais dos anos 20, com vazamento de óleo de navio vindos dos estaleiros de Caju, e com despejo de lixo na região.
Com a construção da Avenida Brasil, veio milhares de trabalhadores do nordeste em busca de melhores condições de vida. Porém o governo não deu moradias, e acabou dando origem ao Complexo de Manguinhos. No final de toda essa história, os pescadores que perderam as suas palafitas e o seu ofício pesqueiro, também foram para as favelas de Manguinhos e da Maré. Devido à poluição da baía de Guanabara e aos aterros, a cultura de pesca artesanal foi a extinção.
Texto e Pesquisa: Cleydson Garcia.
Historiógrafo e Graduando em Arquitetura.
Imagem colorizada digitalmente por Cleydson.
Créditos: Especial Rio Antigo
Fonte: O Rio antes do Rio, Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil, de Jean de Lery.
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Comentários
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Muito rica a história de Manguinhos. Meus parabéns pela postagem!
ResponderExcluirRealmente, a história do lugar é muito rica!
ExcluirÓtima pesquisa.
ResponderExcluirObrigado amigo!! xD
ExcluirDepois de Parada do Amorim e antes de se chamar estação de Manguinhos, o nome era estação Carlos Chagas.
ExcluirObrigado Gilson, vou acrescentar as informações, valeu 😉
ExcluirE o abrigo Cristo redentor não entra nessa história???
ResponderExcluirOuvi dizer que o terreno do abrigo era 1 metro á frente da Avenida dos democráticos e ia até a Av Brasil tanto que existe uma Capela que fazia parte do abrigo ai pra perto do hospital de bonsucesso.
Obs: Ouvi dizer.
Olá amigo! Vou pesquisar e posso vir acrescentar mais informações, qualquer colaboração é muito bem vinda. 😉
ExcluirParabéns pela sua pesquisa, uma preciosidade. Você tem alguma coisa sobre Santa Cruz e a baixada de Sepetiba (e todas as transformações que ocorreram no seu sistema hidrográfico em meados do século XX)???
ResponderExcluirOlá Álvaro, obrigado!! Tenho alguns mapas que mostram como muitos rios foram modificados na região.
ExcluirSou de Ramos e lá tem uma grandre rua chamada Estrada Engenho da Pedra, e tem uma rua chamada Itambé que significa pedra em Tupinambá. Incrível essa história perdida.
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